Arquivo da categoria: Prosa

Gênesis

Antes do princípio eram o verbo, a verba e o nada. Muito verbo, pouca verba. O verbo comeu a verba, inchou, inchou e explodiu! Nada sobrou! Veio, então, o tempo, do outro lado do escuro! Reuniu o povo e fundou o PT. Expulsou os Anões do paraíso e disse : não orçamentarás, não empreitarás, não PTerás, não Lularás. Terras ocuparás e cisternas abrirás no Monte das Oliveiras. Trigo plantarás na terra dos sem-terra. O pão assarás com tuas mãos calejadas e o comerás com o suor de teu rosto.

No dia seguinte o tempo grampeou todos os telefones, deu de presente ao futuro um pretérito perfeito e …descansou.

Lino Maia

Deixe um comentário

Arquivado em Prosa

A caminho do mar! ( Florianópolis, setembro de 1999).

Céu azul, sol a pino, areia quente, branca e fofa. Leve brisa sussurra cantigas em coqueirais e casuarinas da praia. O mar se agita docemente. Marolas se enrolam e brincam com as ondas. Na areia, a multidão dos banhistas, as barracas, as sombrinhas, as esteiras, os carrinhos dos vendedores ambulantes, as pranchas dos surfistas, os corpos bronzeados, a música de rádios a pilha e toca-fitas, tudo formando outro mar. E desse mar vibrante e colorido emerge uma mulher. Surge bem ‘a nossa frente, a dez metros de distância. Grande chapéu de palha na cabeça, óculos escuros, roupão azul cobrindo-lhe o corpo até os joelhos. Estava descalça. Parou, tirou os óculos e fitou longamente o mar. Desabotoou o roupão, deixando entrever um sumário biquíni. Tirou o chapéu e desfez-se do roupão, estendendo-o carinhosamente sobre a areia. Olhou em nossa direção. Os cabelos negros, ondulados como o mar e agitados pelo vento, velavam e revelavam um rosto de cor trigueira e de formas suaves. O nariz bem proporcionado e os lábios semi-abertos juntavam-se a dois olhos grandes e vivazes para compor um quadro de serena beleza. A parte superior do biquíni mal conseguia reter em seu interior os seios que teimavam em mostrar-se aos indiscretos olhares dos passantes.
Como querendo exibir-se para nós, virou-se para a direita e para a esquerda. Seus quadris moveram-se como num vídeo em câmara lenta da coreografia de conjunto de pagode.
Seus pés de porcelana acariciavam a areia. Virou-se novamente para o mar. Seu corpo, contemplado agora de encontro ao horizonte, lembrava uma escultura grega no topo de alguma colina sobre o mar Egeu. Sorriu para nós e afastou-se, graciosamente, ”em doce balanço a caminho do mar”!

Lino Maia

Deixe um comentário

Arquivado em Prosa