Maria, Brilhante Aurora

Estavas com Deus desde toda a eternidade.
Viste-O criando a estrelas, o mar, a terra.
E Ele, com certeza, viver sem Ti não queria,
Mas, no dia em que Adão
Atirou a imagem divina ao chão,
O Criador Te chamou e disse : vai, Maria
E leva contigo meu Filho,

A tirar o mundo das trevas
E salvar a humanidade.
Vieste, então, sem demora,
Como fulgente aurora,
Sobre o píncaro das serras.
Viveste expulsando a noite,
Como de Deus um açoite,
Atraindo, com o brilho de tua vida,
A luz benfazeja do dia.
Admiro-Te, oh branca alvorada,
Que andas ‘a frente do Sol
E, quando este aparece,
Desces depressa do monte
E te escondes na sombra dos vales.
Permaneceste desperta na noite milenar do pecado,
Levando na mãos a tocha acesa da Esperança.
A história da Redenção foi um longo e penoso amanhecer.
Tu foste sua estrela d’alva, sua aurora.
Andaste de madrugada, de mansinho,
Acordando os homens para o dia que chegava.
Viveste na neblina fria do nosso vale de lágrimas.
Como um foco de luz e de calor
Apresentavas os sinais da Redenção,
Reflexos luminosos do Sol que ía nascer,
Mas não dizias teu nome.
E a humanidade olhava admirada as tuas virtudes,
A beleza de tuas cores, Aurora de Deus!
Depois, pouco a pouco, desapareceste
Para dar lugar ao Astro-Rei,
Ao Sol que é teu Filho
E voltaste ‘a noite da humildade.
Mas Ele, o próprio Deus, que vê no escuro,
Descobriu-Te dentro dessa noite,
E reacendeu em nosso céu,
Na meia-noite do dnosso pecado,
Uma Aurora Boreal!

Lino Maia

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Doce vida…

Uma gaivota branca, com asas de veludo, acaricia docemente o céu.
Nos lares corre uma seiva de vida.
A amplidão tem olhos latejantes de pirilampos.
E o muno galopa comigo do sul para o norte, no forte balanço da vida que avança.

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Madrugada

Ouço uma sinfonia no espaço, uma harmonia na vida. Chegam estrelas cintilantes. Há uma paz que vem de dentro.
A chuva lavou a noite. As colinas dormem no acalanto de uma aragem. O ar molhado
da madrugada traz um doce perfum de mel.

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Cavalo Azul

Eu tenho um cavalo azul. Suas crinas de ouro balançam em ondas na brisa verde da madrugada. Seus cascos de prata batem, na relva esmmeralda, o compasso lento da orquestra dos ventos.

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Passagem por Lisboa

    Desembarquei,em dezembro,  no aeroporto de Sacavém.  Era  verão  e  fazia  muito calor. Fui  até  o quarto de banho,  troquei  as peúgas de lã  e vesti uma camisola mais fresquinha.  Deixei  a mala no catifo, dirigi-e ao bar  e   solicitei um sumo de maçã,  uma genebra e um prego. O garço alfacinha disse-me, então, que  seguisse a bicha em  frente até  o  balcão.

                                         Lino Maia

        

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Hong Kong

         Doze de dezembro  de 1998. Há cinco meses aterrizamos em Hong Kong, ou melhor, o avião  aterrizou  e nós continuamos ”voando”  no ar quente  e úmido  deste patropi  oriental.
Após dez dias de hotel, alugamos um apartamento onde nos acampamos durante mês e meio ‘a espera de nossa mudança que vinha do Brasil, navegando por mares onde nunca dantes flutuara. E ainda hoje estamos desacampando, desfazendo de caixas, tentando ajeitar a traquitana toda em metade do espaço de que dispúnhamos em Brasília. E estas coisas, parecem ter inteligência e vontade! Umas se adaptam logo ao clima e ao espaço que lhes é reservado. Outras ficam pelos cantos, de cara emburrada, como que nos pedindo que lhes demos um lugarzinho melhor.
E a sensaçao de estar do outro lado do mundo, de cabeça para baixo, é bem estranha.
Felizmente Hong Kong nos acolheu muito bem. Aliás, nos surpreendeu em quase tudo. O que lêramos sobre a cidade e o que conversáramos com pessoas que já a haviam visitado nos deram apenas uma vaga idéia daquilo que encontramos in loco. Cidade diferente, e mujito, de
todas quantas conhecíamos por esse mundo afora. Tem ago do Rio de Janeiro, com suas montanhas de formas arredondadas, a presença marcante do mar, embora, aqui, sem praias. Tem os bondes, saudosos bondinhos do Rio mais antigo. Lembra Nova Iorque pelo conjunto arquitetônico e vida fervilhante. O clima quente e úmido, a vegetação tropical, o comércio a céu aberto, têm alguma coisa a ver com Manaus e Belém. No entanto, também muito diferente de cada uma delas. A começar pelo trânsito que anda certo pela contra mão
(claro, se é colônia da Inglaterra!). Vai lento, empacotado, organizado. Mil e oitocentos Rolls Royces trafegam pelas ruas Mercedes sem conta, Lancias, Ferraris, BMWs e todos os top models japoneses e, acredite, um fusquinha brasileiro! Outro dia o vimos, assustado e perdido como cego em tiroteio, bem no centro da cidade. Ônibus de dois andares e os enfeitadísimos, encantadores bondinhos que andam aos bandos, antiguidades que trocaram os museus pelas ruas. E o povo, comprimindo-se nas calçadas, empurrando, tropeçando, trombando, fazendo destas ruas, ondulantes e coloridos dragões chineses.
Cidade laboriosa, sem lugar para malandros, vagabundos e desocupados. Seja o vendedor ambulante, o peão-de-obra, equilibrando-se em andaimes de bambu, seja o jovem executivo com jeito d ”yuppie”, empunhando seu telefone celular, seja a secretária de salto-alto e tailleur de griffe, todos trabalham. Aqui acabaram com o m9ito de que clima tropical produz população apática e preguiçosa. Há dois mendigos na cidade m que confirmam a regra da exceção. Pivete, ainda não vimos nenhum. Disseram-nos que estão nas escolas, nos grupos de escoteiros, nas Cruzadas Eucarísticas das Igrejas.
E tivemos que aprender a caminhar na multidão. Em certos pontos da cidade, você não caminha. É arrastado. Cada esquina é uma saída de Maracanã em dia de Fla-Flu. E o mais difícil não é andar. É parar. Praticamente impossível, a não ser nos sinais de trânsito. Uma paradinha frente a uma vitrine provoca um tremendo engarrafamento de pedestres. Outro dia,
deixei cair das mãos um molho de chaves. Abaixei-me para apanhá-lo e quem foi que disse que consegui me levantar! Tive de percorrer dois quarteirões, de gatinhas, até encontrar uma clareira para me levantar. E andar duas pessoas juntas nesse trânsito, é complicado. Três, então, nem pensar! O melhor é marcar um lugar de encontro e tentar chegar lá sozinho. Mãos dadas, braços dados, é desaconselhado. Arrisca-se a chegar em casa sem eles. O direito de ir-e-vir é respeitado e desfrutado em Hong Kong, exceto nas esquinas. Ao parar num cruzamento, várias coisas podem acontecer, menos conseguir uns atravessar para o lado que você quer. Ao abrir o sinal, duzentas mil pessoas disputam resalguns metros quadrados de faixa para pedestres. Se você vacilar, será inexoravelmente arrastado para onde não quer ir. E não é raro ir-se de um lado ao outro da rua flutuando a um metro do chão. A primeira vez que isto aconteceu conosco foi em frente ao hotel, no dia de nossa chegada ‘a cidade. Ao sermos alçados ao ar, pensamos fosse alguma manifestação popular de boas-vindas. Ao ”atrrizarmos” do outro lado da rua, descobrimos que nossas malas e embrulhos tinham ficado sob os pés da multidão. No dia seguinte, ainda pudemos ver no local os fragmentos do que havia sido a bagagem-de-mão que nos acompanhara por vinte e cinco horas desde que nos embarcamos no Brasil.
Outra coisa bastante frequente é o ser arrastado até o meio da rua e voltar de costas, empurrado, no peito, até o lugar de onde você saíu. Ainda bem que em Hong Kong você não precisa propriamente atravessar rua. Em primeiro lugar porque no mesmo quarteirão onde estiver, você encontra tudo de que necessita – banco, supermercado, restaurante, padaria, dentista, médico, farmácia, lavanderia, chaveiro e cabelereiro. E depois, porque os shoppings
do centro da cidade são interligados por galerias suspensas sobre as ruas.
Tudo isto é Hong Kong. Uma cidade organizada, um grande circo muito sério. É bela e fera, fragrante e malcheirosa, sensual e recatada. Como diz meu filho, ”it smells food and money”! E os chineses alimentam-se bem. Há trinta mil restaurantes na cidade. Tudo que tenha asas e pernas, eles comem, exceto avião, mesas e cadeiras! E a sua dieta contém algum segredo que desconheço. Não é possível! As chinesas são magérrimas, modelares. E se vestem de acordo, discreta e elegantemente. Aliás, Hong Kong despiu-se o tradicional chinês, mas não sucumbiu ‘a avalanche do jeans, do tênis e da t-shirt de mau gosto.
Mas, não se preocupem. Este retrato caricato está longe de espelhar de maneira completa o que realmente é esta fascinante sino-quase-ex-metrópole britânica. E aí vão algumas sugestões que poderão ser úteis ao visitante menos avisado –

1 – Trazer uma foto ampliada (60 X 60) da família e um mastro de três metros de comprimento. Ao sair ‘a rua, ata-se a foto ‘a ponta do mastro. No caso de alguém se perder na multidão, levanta-se o mastro com a foto para que o perdido se encontre.

2 – Apito ou corneta poderão ajudar em áreas mais tranquilas da cidade. No centro e áreas comerciais serão inúteis. Ninguém escuta ninguém. O barulho dos bondes, ônibus, buzinas,
britadeiras, furadeiras e a gritaria dos chineses – o diapasão deles é de duas escalas acima do que é normal para nós – suplantarão qualquer tentativa de comunicação sonora.

3 – Não pare nunca na calçada quando a multidão estiver em movimento.

4 – Para abrir caminho na multidão, use os cotovelos bem abertos, a ponta do guarda-chuva ou a ponta do mastro da foto.

5 – Para atravessar uma rua há três alternativas –
A) Brigar comj 200 mil pedestres que querem fazer o mesmo (brigar com você!)
B) Aguardar até duas ou três horas da manhã, quando o trânsito melhora sensivelmente.
C) Usar uma galeria suspensa ou passarela, que estão por toda a parte na cidade.

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Fotos – Desfile de Cavalos em Passa Quatro

Acabamos de voltar do encontro de ex-jesuitas em Passa Quatro. Foi uma experiencia e tanto. Nunca tive num sala com tanta gente com tanta cultura, conhecimento, e acima de tudo humildade. Enquanto lá tivemos a oportunidade de ver um lindo desfile de cavalos e espero te-lo feito justiça com estas fotos. Tomara que gostam. www.desfiledepassaquatro.com

Desfile de Cavalos

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Gênesis

Antes do princípio eram o verbo, a verba e o nada. Muito verbo, pouca verba. O verbo comeu a verba, inchou, inchou e explodiu! Nada sobrou! Veio, então, o tempo, do outro lado do escuro! Reuniu o povo e fundou o PT. Expulsou os Anões do paraíso e disse : não orçamentarás, não empreitarás, não PTerás, não Lularás. Terras ocuparás e cisternas abrirás no Monte das Oliveiras. Trigo plantarás na terra dos sem-terra. O pão assarás com tuas mãos calejadas e o comerás com o suor de teu rosto.

No dia seguinte o tempo grampeou todos os telefones, deu de presente ao futuro um pretérito perfeito e …descansou.

Lino Maia

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A caminho do mar! ( Florianópolis, setembro de 1999).

Céu azul, sol a pino, areia quente, branca e fofa. Leve brisa sussurra cantigas em coqueirais e casuarinas da praia. O mar se agita docemente. Marolas se enrolam e brincam com as ondas. Na areia, a multidão dos banhistas, as barracas, as sombrinhas, as esteiras, os carrinhos dos vendedores ambulantes, as pranchas dos surfistas, os corpos bronzeados, a música de rádios a pilha e toca-fitas, tudo formando outro mar. E desse mar vibrante e colorido emerge uma mulher. Surge bem ‘a nossa frente, a dez metros de distância. Grande chapéu de palha na cabeça, óculos escuros, roupão azul cobrindo-lhe o corpo até os joelhos. Estava descalça. Parou, tirou os óculos e fitou longamente o mar. Desabotoou o roupão, deixando entrever um sumário biquíni. Tirou o chapéu e desfez-se do roupão, estendendo-o carinhosamente sobre a areia. Olhou em nossa direção. Os cabelos negros, ondulados como o mar e agitados pelo vento, velavam e revelavam um rosto de cor trigueira e de formas suaves. O nariz bem proporcionado e os lábios semi-abertos juntavam-se a dois olhos grandes e vivazes para compor um quadro de serena beleza. A parte superior do biquíni mal conseguia reter em seu interior os seios que teimavam em mostrar-se aos indiscretos olhares dos passantes.
Como querendo exibir-se para nós, virou-se para a direita e para a esquerda. Seus quadris moveram-se como num vídeo em câmara lenta da coreografia de conjunto de pagode.
Seus pés de porcelana acariciavam a areia. Virou-se novamente para o mar. Seu corpo, contemplado agora de encontro ao horizonte, lembrava uma escultura grega no topo de alguma colina sobre o mar Egeu. Sorriu para nós e afastou-se, graciosamente, ”em doce balanço a caminho do mar”!

Lino Maia

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Caipira Feliz

1 – Vou contar a minha história,
Para ficar na memória
De quem gosta de viver.
Levo uma vida suada
Mas por Deus abençoada
E plena de muito prazer.

2 – Sou um caipira da roça Vivendo em palhoça
Que eu mesmo fiz.
Não vivo sozinho,
Meu lar é um ninho, Recanto feliz

3 – O ar puro vem da serra, Refrescando nossa terra,
Tão doce de respirar!
Água limpinha é da mina,
De uma fonte cristalina,
Pra nossa sede matar.

4 – Nessa vida de caipira,
Uso cinto de embira
E ando de pé no chão.
É que sapatos não tenho,
Mas uso de meu engenho
E monto no meu alazão.

5 – Minha mão assim calejada
Pelo cabo da enxada
Não sabe pedir esmola.
Com ela semeio o milho,
Abençôo o nosso filho
E ponteio a viola.

6 – Minha esposa é pessoa
Que não sabe ficar ‘a toa.
Sempre lava, cozinha e arruma,
Passa com ferro de brasa,
Varre todinha a casa
Com vassoura de guanxuma

7 – Nosso filho é tão lindo
Como o sol que vem surgindo
No horizonte profundo.
Ele é para nós um tesouro,
Vale mais que todo ouro
Que se encontra no mundo!

8 – Se vou passear na cidade,
Logo sinto saudade
Do meu doce rincão.
Com as compras no embornal,
Deixo para trás o arraial
E volto pro meu sertão.

9 – Meu amor fica lá fora,
Sem saber se ri ou chora,
Esperando a minha vinda.
Eu chego feliz e correndo
E vou logo lhe dizendo:
Meu amor, você é linda!

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